vivo em pecado mas sou elegível
igreja católica
fui educada na doutrina da igreja católica. os meus pais não são fundamentalistas, mas os mandamentos, os sacramentos e os princípios estiveram sempre presentes.
na minha adolescência a incompatibilidade de visões (sobre o aborto, o uso de preservativo, a homossexualidade…) afastou-me gradualmente do pensamento veiculado pela igreja e consequentemente da participação das suas práticas.
desde então a minha relação com a igreja católica é "institucional" ou seja: casamentos, batizados, funerais e afins (todos dos outros, o que no caso dos funerais tem dado bastante jeito).
recentemente fui convidada a ser madrinha de uma catraia. inicialmente rejeitei pois um dos princípios é ajudar a educar a criança nos princípios da igreja católica; pois bem, parece-me um pouco hipócrita assumir esse compromisso quando eu própria não tenho essa prática (não se assustem que respeito a maior parte dos mandamentos, os princípios humanos de respeito pelo outro). após insistência da mãe, à qual emocionalmente me é difícil afincar o não, acedi ao pedido.
quando achámos que isto da igreja já está claro nas nossas mentes (o que nos aproxima e o que nos afasta)... vem que descubro que tem sempre coisas para nos surpreender.
o últimos sacramento por mim praticado foi o crisma (confirmação do compromisso/votos com a igreja) ainda em adolescente; sacramento este me me permite ser madrinha. mas... na verdade já deveria ter cumprido outro: o do sagrado casamento. como me afastei da igreja nunca me passou pela cabeça casar por este meio, assim, aos olhos da igreja católica vivo em pecado.
bem, parece que pior do que viver em pecado por ter decidido não cumprir com um dos sacramentos é cumprir com ele e desfazê-lo.
o pretenso padrinho da criança tem um grande problema, é um pecador, quase traidor ... é divorciado!
foi contra o principio do "até que a morte vos separe" (porque teve o bom senso de cumprir o primeiro mandamento e não matar a ex-mulher), rompeu com o sacramento do matrimónio e em consequência não pode ser padrinho da criatura.
ele que escolheu constituir família perante os desígnios da igreja, mas que perante as incompatibilidades e a dureza que implica sempre o final de uma relação, decidiu apostar na sua felicidade e bem-estar... é banido da possibilidade de apadrinhar uma criança (pois não é um modelo a seguir). eu que me desliguei da igreja há mais de 15 anos, que vivo em pecado, não profiro a "fé da nossa igreja" posso ser madrinha.
não vos parece mais um pequeno problemazito burocrático de uma igreja que, salvo o chiquinho, corre o risco de se perder (força e abrangência) no rigor e inflexibilidade dos seus postulados?
nota: não pretendo ferir suscetibilidades. respeito todos os credos e religiões; está conheço melhorcito pelo que me é mais fácil apontar, o que a meu ver me parecem, suas incongruências.