hoje ao deambular pela minha estante de livros fui interpolada pelo “livro das perguntas”. foi um livro que adquiri há muito quando dinamizava sessões de dinâmicas de grupo. o livro não é dirigido a esta temática, mas era uma estratégia que eu utilizava com frequência para gerar interação no grupo.
decidi então folhear o livro e escolher uma pergunta para partilhar com vocês. façam o exercício de refletir sobre a questão. de vocês para vocês. por vezes são exercícios simples que nos ajudam a (des)construir quem nós somos.
a pergunta escolhida foi:
“contentar-se-ia com um casamento perfeito em todos os sentidos menos num – total falta de sexo?” *
a mami responde:
a primeira coisa que me veio à cabeça quando li a pergunta foi a polémica da semana passada em relação à proposta do padre católico para os casais “recasados”.
existem, na minha opinião, várias razões para partilhar a vida com outro ser humano (amor, sexo, partilha, projetos comuns, cumplicidade, …). a decisão não se deve basear num desses fatores, mas sim na conjugação de vários; sendo que existem fatores estruturantes numa relação a dois e o sexo é, para mim, um desses fatores. neste sentido, não consigo conceber um casamento perfeito sem sexo - vejo o sexo num espetro alargado, onde vários aspetos da sexualidade estão incluídos, não o resumindo ao mero ato da penetração.
assim a minha resposta à questão seria: não. a vida não é para nos contentarmos, mas sim para transbordarmos.
já um bocadinho fartinha de todos os especiais do papa francisco, fiz um zapping enquanto comia a minha deliciosapanqueca de aveia e, parei na sic caras, chamou-me a atenção um certo alvoroço (ao nível de galinhas no galinheiro) que lá decorria, no programa passadeira vermelha.
mas a verdade é que no meio daquilo tudo, o cláudio ramos estava a defender uma ideia, que me fez ficar para perceber melhor os seus argumentos.
ora bem, um programa que tinha 3 mulheres, diferentes idades, e o cláudio.
o sr defendia que não devemos deixar de praticar sexo, pois se o fizermos, retomar a prática é difícil. na linguagem depreendia-se a ideia de que é relativamente simples desabituarmos e deixarmos de sentir necessidade de sexo.
confesso que a ideia prendeu-me. pela minha necessidade de refletir sobre ela. o galinheiro dificultava o raciocínio do sr., mas ele foi avançando: "um casal zanga-se e deixam de fazer sexo, passa uma semana, duas e de três já são quatro. quando se apercebem passou um ano. as pessoas vão-se desabituando e depois a reaproximação não é fácil, as pessoas já não sabem como o fazer. perdem a intimidade e têm receio."
as demais pessoas no programa brincavam com o tema, foi genial a forma como ele as confrontou perguntando se sendo mulheres não tinham noção disso. não sou fã do sr mas gostei da forma frontal e franca de como falou do assunto e apresentou os seus argumentos (que não se destinavam apenas a pessoas com um relacionamento estável).
sempre me questionei se eu teria um problema quando ouvia amigos e amigas, descomprometidos, dizer que não podiam viver sem sexo – claro que se destacava o género masculino. que era impensável um mês sem a sua prática. determinada noite um amigo disse que tinha estado 3 anos sem praticar sexo, referindo com humor, que tinha sobrevivido. defendia uma postura muito semelhante à minha. temos que estar predispostos, mas temos também de sentir a vontade de o fazer com alguém em particular e não de fazer por fazer . nós não somos puros animais instintivos, a evolução trouxe-nos a capacidade de pensar e sentir.
conheci uma pessoa linda, por dentro e por fora, que teve uma desilusão amorosa aos 20 anos. essa situação afetou-a de tal forma que esteve 10 anos sem voltar a estar sexualmente com alguém. fechou-se de tal forma à possibilidade, que simplesmente a ignorava. efetivamente teve muita dificuldade em retomar a sua vida sexual.
infortunadamente também conheci casais em que o orgulho e o tempo os afastou, tornando-os perfeitos desconhecidos dentro das suas próprias casas.
consigo perfeitamente enquadrar nestes casos o raciocínio do cláudio ramos. sinto, no entanto, a necessidade de defender, sobretudo quando não estamos dentro de uma relação, que não temos de fazer sexo só por fazer, só para não perder o “ritmo”, isso pode ser contraproducente e deixar-nos uma horrível sensação de vazio. devemos sim estar predispostos a. não nos fecharmos à possibilidade à espera do ser que idealizamos e que poderá nunca chegar! o nosso corpo e a nossa alma precisam do toque do outro, mas de um outro significativo (nem que seja porque houve uma forte atração ou uma conexão mental).
escutei várias vezes homens referirem que as mulheres estão menos predispostas para o sexo. presenciei desabafos de mulheres que estavam radiantes por se terem "safado" de fazer sexo com o parceiro. e eu, enquanto espécime do género feminino, tenho a declarar que não considero ter menos "vontade" ou “apetência sexual” do que o meu .mais.que.tudo. – não obstante questiono como se avalia efetivamente vontade.
sei que não sou a exceção entre as mulheres. as mulheres temos uma forma diferente de reagir e lidar com os nossos instintos mais primários, tirando-lhes a sua espontaneidade e envolvendo-os num emaranhado emocional e racional - indivíduos do género masculino, embora esteja evidentemente a chamar-vos básicos, em minha defesa quero que fique claro que considero, que no que refere ao sexo, essa característica é uma virtude. os homens respondem aos seus instintos de forma física e básica- pouco de racional terão as suas ações neste contexto, exceção feita, espero eu, a assuntos de cariz ética e moral. para as mulheres, salvo as normais exceções, tudo é um processo. subsistem sempre muitas coisas na cabeça de uma mulher, ela não desliga. há complexidades emocionais (que podem ir até ao século passado!), carências (nem sempre –aparentemente- justificáveis), inseguranças (ui as inseguranças, reais e imaginárias), desejos e expectativas (o que criámos para nos tramar!). há um conjunto de diversas questões que condicionam a libertação da sua vontade, porque não separa o físico do emocional (questão já abordada em orgulho & relacionamentos)
o sexo é físico mas a mulher emoldura-o em emoção e debate-o com a razão. perfeito seria: deixar o físico arrebatar, a emoção acariciar e o racional. envolvido nesta sensação de leveza e bem-estar, validar a perfeita escolha do "deixar-se" ir. infelizmente não é assim que funcionamos. temos a sensibilidade à flor da pele. a vontade de marcar a nossa posição, capa a nossa vontade e impede a primorosa possibilidade de libertação.
mulheres:
pelo pleno gozo da nossa sexualidade, por favor, sejam mais básica! ouçam, aceitem, respeitem e satisfaçam os desejos do vosso corpo.
permitam-se ser felizes: galhofem, sejam criativas, surpreendentes, sensuais e desafiadoras.
recordem sempre que: uma alma feliz só se desenvolve num corpo feliz.
precisei de um hotel para pernoitar com o mais que tudo. não queríamos gastar muito dinheiro pois não iriamos usufruir do hotel mais do que o estritamente necessário, ou seja, uma boa noite de sono. fiz o processo normal: entrei no site do booking, coloquei a cidade e ordenei por preços; eliminei todos aqueles que me pareceram duvidosos e dos quais poderia sair com um órgão a menos; encontrei um a um preço muito razoável. chegámos ao local e a receção era um intercomunicador. tudo bem. a voz do outro lado ordena a entrada por uma garagem. ok. entramos por um corredor (túnel) e a box da garagem abriu, assim que entrámos, fechou. ainda meia atordoada por aquele procedimento, subi umas escadas que, pensava eu, me levariam à receção, e qual o meu espanto quando chegámos ao quarto. foi naquele momento que me caiu a ficha: nós estávamos num motel para quecas inexistentes!
reação do mais que tudo perante o meu choque: uma gargalhada (.p.r.o.l.o.n.g.a.d.a.)
minha reação ( juro que nada armada em puritana): uma sensação de desconforto por sentir "sexo e traição" por todo lado
repentinamente fui tomada pela consciência maravilhosa de haver imensas coisas que me têm escapado (não a traição no mundo dos adultos) mas a constatação que ainda tenho muito a descobrir e experimentar (sei: umpouco parva, eu sei...e infantil quiçá). veio de seguida o maravilhamento ao ver um espelho gigante e ao constatar que o miminho na mesa de cabeceira não era um bombom ... mas sim um preservativo; de seguida veio uma tristeza imensa ao verificar que o colchão não era de água (nos filmes costumam ser!) ... mas a tristeza brevemente passou ao ver a banheira de hidromassagem .g.i.g.a.n.t.e.
confesso que estava tipo nerd a verificar se estava tudo limpinho enquanto o meu mais que tudo gozava comigo e perguntava: o que é que tu achas que fazem os casais nos quartos dos outros hotéis?
era tudo muito novo para mim…ok?!
outro momento excecional foi quando saímos para jantar (na total discrição própria dos adúlteros); encontramos, na nossa box de garagem privativa, uma informação que referia que a porta da garagem só abriria quando o corredor estivesse desimpedido. tudo preparado para perfeitos encontros clandestinos.
confesso que esta experiência por um lado me fascinou, por outro me assustou pelo facto de efetivamente uma traição poder não deixar rasto; e como está tudo montado para que isso aconteça!