como garantir qualidade de vida a um cidadão português em marte
recentemente, após se validar a existência de vida em marte, fui contactada pela ‘nasa’ para fazer parte de uma equipa de investigação que descobrisse como garantir qualidade de vida a um cidadão português em marte.
fiquei muito surpresa com o convite. sei que tinha vantagens perante vários colegas: era portuguesa! no entanto o meu currículo, ainda bebé, não adivinharia um convite desta envergadura.
na entrevista tentei perceber as razões do convite (sem nunca retirar-me mérito ou diminuir as minhas competências).
o entrevistador afirmou que embora o currículo académico seja de extrema importância, pois assegura que o indivíduo possui o conhecimento teórico e terá desenvolvidos algumas competências práticas, ficaria desprovido de sentido se não fosse enquadrado numa experiência de vida em que esses saberes e competências fossem colocados em prática num contexto real.
enquanto eu sorvia cada uma das palavras deste deus científico ao estilo hollywood, possuidor de uma bela voz e com um inglês perfeito – sentindo-me eu num episódio do x-file (o verdadeiro e não a caricatura que lançaram este ano) – ele saca de um dossiê (bem compostinho) com o meu nome impresso.
continuou o seu discurso - pois eu nem piava de admiração (em ambos os sentidos da palavra) – dizendo: verificamos que assinou contrato com um serviço do estado português em 2010 – deixando um emprego melhor remunerado no setor privado, decidindo apostar numa carreira na função pública.
o deus-científico fixou-me com o seu meu olhar, intenso e reprovador, e disse apenas: este factor quase nos levou a exclui-la. a decisão que tomou foi irresponsável, quase suicida. mas como o objetivo da nossa investigação é a sobrevivência, decidimos ignorar este seu ato em prol do todo.
continuou: após mudar de emprego, mudou o governo. as condições para os funcionários do estado caíram drasticamente e certamente terá tomado consciência da merda que fez – ok esta não foi a expressão utilizada pelo deus científico, mas é a melhor tradução que consigo para a bela linguagem utilizada naquele inglês perfeito.
manteve o seu emprego, a meio tempo, sempre precário, perdendo no primeiro ano dois meses de vencimento, no segundo quase o mesmo pois com novo imposto o 13.º mês, em duodécimos, quase nãos e cheirava. quando se restituiu o subsídio de férias passou a recibos verdes, pois não se faziam contratos sem termo no estado - demonstrou aqui que para sobreviver consegue “fechar os olhos” a algumas regras, pois é evidentemente ilegal passar de contrato a recibo verde (para a mesma entidade e cumprindo as mesmas funções), no quinto ano voltou a um contrato, novamente meio tempo, precário e a começar do zero (valor remuneratório, tempo de serviço,…). ao longo destes anos teve sempre trabalhos suplementares em diversas áreas de maneira a conseguir equilibrar o orçamento e fazer face as despesas com as quais se tinha comprometido antes do que por no seu país se chamou “crise” (acreditamos que não terá sido fácil, pois se para o vosso governante sobreviver com 10000€ mês foi complicado, para si fazê-lo com 900€ não deve ter sido nada fácil) – resiliência creio que lhe chamam por cá.
após todas estas situações de desafio e privações não apresenta síndromes de stress pós-traumático. e mais, no meio desse cenário conseguiu sempre ser feliz, por vezes chateada, irritada e frustrada, mas feliz. descobriu novas formas de se divertir, de passar tempo com os amigos e aprendeu muito. cresceu, tornou-se mais crítica e menos fútil.
agora procura viver cada situação e cada momento presente em vez de possuir.
percebeu que o que vive é o único que ninguém lhe tira, que não paga juros e que a faz feliz de dentro para fora.
é hoje uma pessoa complexa e rica que, aliado aos seus conhecimentos teórico-científicos torna-se a candidata perfeita nesta missão! - estes americanos sabem mesmo como nos convencer!
posto isto, como negar fazer parte desta missão?!
nota: no primeiro treino de preparação descobri que os portugueses, pela sua capacidade de adaptabilidade, criatividade e resiliência, são o único povo no mundo considerado para fazer parte da primeira vaga que povoamento do planeta vermelho. pois se nós não conseguirmos, ninguém consegue!
última hora: estão a ser negociados subsídios, a pagar pelo estado norte-americano ao estado português, por cada cidadão português deslocado para marte.
diz-se que: obrigada Robinson Kanes pelo tema ... diverti-me muito a escrever este post :)
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