muito dona do meu nariz, nunca fui de aceitar cinzentos no que toca a afetos. as pessoas querem ou não querem estar connosco. respeitam-nos ou não. valorizam-nos ou não.
nunca mendiguei, nem nunca desperdicei os meus afetos.
estranhamente as mágoas afetivas que guardo nunca foi com namorados. devo-as todas a (ex)amigos. amigos que não souberam lutar pela nossa relação. amigos que perante os ciúmes das namoradas optaram por se afastar.
nunca entendi tal comportamento. não consigo sequer explicar o sentimento de traição que senti. pois como é óbvio, falo de relacionamentos de amizade vincada e alimentada por anos de relacionamento. talvez eu tenha esse karma. aconteceu-me com 3 amigos, em diferentes fases da minha vida.
a minha reação? um corte definitivo. se fomos descartados, postos de lado e esquecidos, temos o direito a fazer um delete nessa pessoa. ninguém tem o direito de magoar ninguém, de trair a sua confiança e apor em causa anos de relacionamento!
embora achasse as gajas, promotoras da situação, parvas, nunca as responsabilizei. a mim nada deviam. quem me devia consideração era ele.
que fraquinhos os meus (ex)amigos. incapazes de lidar com a pressão da nova namorada. inábeis de me ir introduzindo a pouco e pouco na relação, quebrando as inseguranças das miúdas, e possibilitando que também nos tornássemos amigas. atrasados!
acredito em cortes radicais. só esses permitem fechar a ferida. não dão espaço a que hajam recorrentes toques na ferida, fazendo-a sangrar. doeu, curou, passou.
extremismo? talvez.
eu prefiro chamar-lhe autopreservação do ser!
o texto da miss l fez reavivar estas emoções negativas, mas, simultaneamente, fez-me reafirmar a certeza na minha decisão de afastar essas pessoas da minha vida (mesmo quando após o término da relação tentaram reaproximar-se).
a ana conheceu a beatriz numa soalheira tarde de primavera. passeavam as duas no parque da cidade. a ana porque lá vivia e diariamente passeava o carlão. a beatriz porque veio a casa da dia débora passar uns dias na tentativa de fugir do maranhado de emoções que vivia, e procurava um local tranquilo e agradável para ler o seu livro.
o carlão decidiu aliviar a bexiga no banco onde a beatriz lia. a ana tinha-se distraído na conversa com a vizinha, a d. elisa. quando, salpicada pelo enérgico jato do carlão, a beatriz deu um guincho ao qual a beatriz reagiu, envergonhada ao som dos risinhos que a d. elisa não conseguiu conter.
a d.elisa despede-se apressada, ainda a rir. a beatriz afasta o carlão e desfaz-se em desculpas. a ana encolhe os ombros e murmura “só isto é que me faltava”, num tom desolado e desanimado.
beatriz perguntou se se podia sentar a seu lado, ana anuiu. passado alguns momentos, sem se saber como, a ana contava as suas ansiedades a beatriz enquanto afagava o pelo do carlão. a beatriz como boa ouvinte, como sempre fora, intervirá apenas para reforçar a comunicação ou pedir alguns detalhes.
o sr fernando, tio da beatriz, abeirou-se delas para perceber quem ela a jovem com quem a sobrinha conversava. mas nem foi visto. percebendo o envolvidas que estavam na conversa, afastou-se.
pouco mais de duas horas depois, aquele banco de jardim era local de risadas - a ana tinha um jeito único para por as pessoas bem dispostas. num ímpeto a ana levantou-se e exclamou: “tu precisas é de uma visitinha ao gervásio!”
“ao gervásio?!” questionou a beatriz.
“claro! salta daí.” responde a ana
e a beatriz, imbuída do bom humor que está desconhecida lhe trouxe, decidiu obedecer e saltar…e saltou em vez de caminhar.
a ana, espantada, riu e alinhou! - até o carlão tentou -, e lá foram elas a saltar sem parar ao encontro do gervásio!
somos seres tão diversos que cada um de nós consegue ser especial de forma diferente, quer seja por uma característica física, cognitiva, de personalidade ou afetiva.
nunca dúvidemos do potencial de cada um em atingir grandes feitos!
sempre tive a perspetiva de que os amigos são as pessoas que devem dizer o que ninguém tem coragem ou o direito de dizer. aquele espelho sem filtro no qual nos vemos. aquele que sabe que podemos reagir mal à primeira (porque dói o que ouvimos) mas que depois iremos agradecer. isto para mim sempre foi um dever e uma responsabilidade.
porém a experiência mostrou-me que nem sempre os nossos amigos querem esta honestidade. não querem lidar com os factos que temos para lhes apresentar e querem viver na ilusão velada que criaram para si.
"chapar na cara" aquilo que tentam esconder de sí mesmos é deixá-los entre a espada e a parede... situação que dispensam pois não querem ter de tomar uma decisão sobre esse assunto.
portanto, tenho tido vários debates de consciência nos últimos tempos. quem eu era não os teria. quem eu sou acha que devo respeitar a opção do meu amigo em "fechar" os olhos. contudo, onde fica a minha responsabilidade de amigo em querer o melhor para ele? Por outro lado, onde fica a liberdade dele para decidir o que considera ser melhor para ele?
quais são os limites da nossa intromissão na vida dos nossos amigos? devemos aguardar que nos perguntem e aí libertar a nossa honestidade ou devemos intervir libertando-os da sua cegueira autoimposta?
diz-se que: a nossa liberdade termina quando começa a liberdade do outro
tenho andado por aqui com dilemas internos, que na verdade de dilemas têm pouco, pois nada tenho a fazer.
é mais uma questão de preocupação e agora desabafo.
sabem quando percebemos que há alguém que está a ir pelo caminho errado, não porque sejamos os donos da verdade ou mestres em futurologia, mas porque tudo isso indica? aliás sabemos que se a pessoa alvo da nossa preocupação, não estivesse envolvida, teria exatamente a mesma visão.
então que fazer? pois, nada.
não tem a ver com cobardia. nunca me abstive de dar a minha opinião (os que me rodeiam bem o sabem, coitados). mas uma coisa é alertar para o evidente, outra coisa é insistir e imiscuir.
feita a primeira parte, responsabilidade para com quem amamos, agora só me resta apoiar e acompanhar. esperando que a queda não seja (muito) grande ou aspirar a que, mesmo que tudo diga o contrário, eu esteja errada.
por vezes é bom estar errado.
por outras, temos de respeitar o direito de quem amamos a errar!
nunca fui cativada pela escrita de antónio lobo antunes, mas ao ler a sua crónica na visão desta semana, numa homenagem ao seu amigo miguel veiga, fiquei maravilhada com a sensibilidade, abertura e afeto, arrisco a dizer ternura, de que fala daquele homem seu amigo. confesso nunca imaginar tal sensibilidade num homem, preconceito ou não, sempre intui que embora sentissem não teria a coragem, pela imposição do machismo (ainda) vigente, de tornarem esses pensamentos e sentimentos visíveis, audíveis para outros.
numa passagem do texto podemos ler:
“O Miguel era, para começar, absolutamente irresistível, com um charme único e um extraordinário sentido de humor. Depois era inteligente. Depois era terno. Depois era irónico. Depois era de uma generosidade sem limites. Depois possuía carácter. Depois era bondoso. Depois era firme nas suas convicções. Depois era inabalavelmente fiel nas suas amizades. Teve para comigo gestos de uma extraordinária delicadeza, para além de uma elegância extrema.”
que bela e genuína declaração de amor por outrem.
que enaltecedor elogia à amizade.
quantos de nós fizemos ou teremos tecido um elogio tão natural e sublime a quem amamos?
este texto fez-me pensar nas pessoas da minha vida que deveriam ouvir uma mensagem como esta. não são muitas, mas são aquelas que me estruturam e me fazem sentir segura e amada. merecem um elogio assim, uma declaração de amor, um obrigada por fazerem parte de mim.
obrigada senhor antónio lobo antunes por me puxar à terra, por me (re)lembrar a importância de dizer a quem amamos porque os amamos; de lhes agradecer com justificação, porque um obrigada é importante, mas um obrigada por fazeres de mim melhor é muito mais sentido.
prometo voltar a pegar na memória de elefante que há uns anos pus num canto e dar-me a oportunidade de entender a obra. porque alguém que enaltece assim um amigo, só pode ter um grande coração e uma mente lúcida!
liga ao teu melhor amigo (amiga) para saber dele/a; um telefonema ocasional que não poderá terminar sem lhe dizeres que gostas dele/a e o feliz que és porque faz parte da tua vida.
But what it is, though old so new To fill your heart like no three words could ever do
I just called to say I love you I just called to say how much I care