quem quer respeitar as escolhas dos outros?
ando muito confusa.
por um lado, as pessoas defendem a pés juntos a liberdade individual e o direito à autodeterminação. defendem a igualdade de género e a plena emancipação da mulher.
por outro lado, reduzem a mulher a um ser não pensante e incapaz de fazer escolhas, pois aparentemente, são um mero objeto ou marioneta nas mãos gigantes dos programas de televisão que andam a transportar as mulheres para o tempo – ou quiçá o continente - onde eram – e agora voltam a ser-, meras meninas casadoiras e serventes de seu marido.
questiono o porquê de diabolizar os canais de televisão, neste caso a sic (quem quer namorar com um agricultor?) e a tvi (quem quer casar com o meu filho?), por realizarem estes formatos de programas de entretenimento. quem não gosta, simplesmente, não vê. quem se inscreve para participar fá-lo de livre vontade. quem não concorda com o formato, não se inscreve. ninguém é obrigado ou obrigada a participar ou a ver o programa (um, outro, ou ambos!).
se uma mulher decide concorrer a um dos referidos programas está a usar a sua autodeterminação (lamentarão as senhoras e senhores feministas, que não a use para encontrar a cura para o cancro, para chefiar uma multinacional ou, simplesmente, para mudar o mundo), mas estão a usar o seu direito de fazer o que querem com a sua vida.
temos que deixar de ser arrogantes quanto à nossa opinião sobre o mundo e sobre as pessoas; temos de deixar de ser fundamentalistas e quiçá, se possível, perceber também que as nossas certezas são nossas e que podem não ser a de outros, que aquilo que é melhor para nós poderá não ser o melhor para todos.
tudo tem um contexto. e é esse contexto (social, familiar, cultural, profissional…) que enquadra as opções das pessoas. acreditar na liberdade é aceitar as escolhas dos outros. é não impor as nossas escolhas, mesmo que acreditemos que são as melhores. há vidas tão diversas, percursos tão diferentes, querer que todas as pessoas se enquadrem no mesmo padrão de vida é querer robotizar o ser humano. e no fundo que mal tem se o desejo de uma mulher for casar e ter filhos? que mal tem se não tiver ambição profissional? se o papel que a preenche, que a faz feliz é ser uma “boa” esposa e uma boa mãe. quem somos nós para retirar mérito a essa opção de vida?! porque teremos todas de ser “modernas” e querer ter carreiras de sucesso e atingir lugares de destaque “como os homens”?!
como há muito se diz: presunção e água benta, cada qual toma a que quer.