fundamentalismos na maternidade - ainda sobre amamentação
a maternidade trouxe-me um coração cheio de incertezas num mundo onde as certezas parecem abundar. se aqui falei da “obrigação” social de amamentar o bebé, hoje falo da “crítica” social de quem “ainda” amamenta o filho.
parece que isto da amamentação tem medida certa e prazo de validade.
quem nunca ouviu ou proferiu um comentário do género: “tão grande e ainda mama!” ou “assim que põe o pé no chão é tempo de deixar a mama” - parece que uma conquista no desenvolvimento da criança deve implicar uma perda.
não entendo a condenação das mães que decidem prolongar a amamentação. - pois é, também eu caio nestas coisas… porque escrevi “prolongar”? qual o tempo estalecido como o certo? - pesquisei e encontrei este artigo que me parece uma boa referência, pois o que indica é que o ideal será amamentar até ao primeiro ano do bebé, podendo prolongar enquanto for o desejo de ambos. o artigo refere também a indicação da organização mundial da saúde que aconselha o aleitamento até, pelo menos, os 2 anos.
se a mãe decide continuar a amamentar, se se sente bem ao fazê-lo, se a criança aprecia esse momento de intimidade com a mãe, quem são os “outros” para mandar bitaites sobre a relação daquela díade?
quem pode determinar se uma criança é crescida demais para mamar? para ser alimentada? para receber afeto?
não estaremos a cair no falso puritanismo e eventual erotismo associado às mamas? já quando se discutia a questão do amamentar em público me questionei sobre qual o alarido à volta do assunto. parece que as mamas são uma questão sensível. ou melhor, o mamilo, porque levamos recorrentemente com generosos decotes onde as mamas prendem o nosso olhar – sim, eu, mulher heterossexual, por vezes tenho dificuldade em olhar para algo para além daquelas mamas que parecem querem saltar da sua prisão a qualquer momento!; evitando, mas não conseguindo, cair no argumento fácil de ser permitido o topless em toda uma região do nosso país. que se note que nada tenho contra os decotes ou o topless, cada quem mostra o que quer; o que genuinamente me incomoda é o duplo critério associado às mamas; e, por favor, não me venham com o argumento de proteger a intimidade da criança!
nunca amamentei a minha filha numa casa de banho ou mudador num espaço público; o cheiro, as condições, eram, a meu ver, incompatíveis com o ato da alimentação. se isso condicionou a minha vida? sim condicionou. geri sempre tudo em função dos horários da pequena e muitas vezes recorri ao carro, achava um espaço mais digno. sempre me questionei, quem raio vê erotismo numa mama que mais não é do que a fonte de alimentação de um bebé/criança?!
voltando à questão da idade para se acabar com a amamentação, senhoras e senhores não sexualizem as mamocas para uma criança que não vê mais do que a sua mãe alimentando-a. não transformem um ato natural, numa depravação social. respeitem a opção de cada um dar o melhor de si - dedicação e afeto à sua cria- quer seja através da amamentação, quer seja através de um biberão e muito cafune
imagem retirada daqui
ainda sobre este tema, aconselho a leitura do texto: mãe bio-lógica | amamentação prolongada e o direito da mulher à escolha