equilíbrio entre o virtual e o presencial
a minha filha para adormecer precisa de estar em contacto comigo. é assim desde que esteve doente (embora naquela altura também eu necessitasse desse ponto de contacto).
segurar-me num dedo, brincar com o meu cabelo, afagar-me o rosto… qualquer gesto a satisfaz.
e eu gosto tanto.
questiono-me como perdemos nós, adultos, esta capacidade e vontade de interagir com outros seres humanos.
a facilidade com que as crianças se entregam ao afeto e ao toque é enternecedora. elas têm essa necessidade e não a negam , mascaram ou escondem.
os adultos encontramos formas “estranhas” de nos ligarmos aos outros: redes sociais, tinder, speed dating, e agora, o “casados à primeira vista”.
não pretendo de todo criticar estas formas de “encontro entre pessoas” ou as pessoas em si. apenas questiono o como chegamos a este ponto.
não acredito no argumento da falta de tempo (que todos temos), das exigências profissionais ou da ambição a esta associada.
sendo nós seres sociais, e não ilhas isoladas como já dizia john donne, como raio nos transformamos nesta espécie de calhaus sem rumo ou direção?!
vivemos na era em que um like alimenta o ego e desperta um sorriso e onde começa a escassear o calor de um abraço.
há uma presencialidade ilusória nas redes sociais, o tempo e a proximidade ganham uma dimensão etérea. por ver fotografias de pessoas no nosso mural e irmos acompanhando as suas vidas – pelo menos a faceta que elas desejam dar a conhecer-, temos a sensação de proximidade mesmo não falando com elas!
não pretendo demonizar as redes sociais. sou assídua utilizadora. pretendo apenar alertar para esta transformação nas relações e a necessidade de encontrar um equilíbrio entre o virtual e o presencial.
estamos cada vez mais sozinhos, isolados e carentes.
sobrevalorizamos o eu, tornamo-nos mais egoístas e incapazes de abrir espaço afetivo ao outro. não queremos abdicar de nada. não fazemos cedências. exigimos muito. “i want it all, i want it now”. eu, as minhas necessidades, o meu prazer. tudo “à minha maneira”, incapazes de olhar genuinamente para o outro, para as suas necessidades e desejos.
assim não é fácil estabelecer e, sobretudo, manter um relacionamento – amoroso ou outro.
na vida não basta mudar de filtros para a “fotografia” ficar mais bonita.
na vida temos de construir o cenário, dia-a-dia, criar com o(s) outro(s) a fotografia que nos faça feliz, mesmo que não seja a que está na moda ou a que receba mais likes.
os relacionamentos presenciais dão trabalho, exigem dedicação.
os amigos virtuais exigem likes e comentários que alimentem o ego. dão menos trabalho.
os relacionamentos presenciais dão abraços e afagam-nos o cabelo. limpam-nos as lágrimas e partilham uma garrafa de vinho (bom de preferência).
compete a cada um medir as vantagens e desvantagens do trabalho e das recompensas que os relacionamentos com os outros lhes traz ... e fazer as suas escolhas.
imagem retirada daqui
para recordar:
há dois anos criei um calendário do advento diferente. contém desafios que nos ajudam a crescer. vamso revisitar o do dia 4 de dezembro