houve coisas que deixei para trás porque só faziam sentido em determinada fase da vida ou em determinada idade – não partilho da frase “nunca é tarde para fazermos o que queremos”.
isso entristece-me.
sei que é impossível fazer, numa vida só, tudo o que a minha vontade exige, por uma questão de tempo e de dinheiro. esta consciência trouxe uma nova relevância à palavra “escolhas”. mas surge aqui uma dualidade: como “esquecer” a opção que se deixou para trás?; como não sobrevaloriza-la por ser a preterida?; como gerir os “se’s”?
uma seca eu sei.
tenho imensa dificuldade em fazer escolhas. sobretudo porque quero tudo, fazer tudo, ter tudo. frustra-me a realidade de assim não ser. no entanto, passada a pressão da escolha, o sentimento de insegurança, o receio de estar a errar … (na maioria das vezes) vivo tranquilamente com a minha decisão. embora, surja por vezes, uma certa melancolia pelo que poderia ter sido, se a escolha fosse outra.
somos o resultado das nossas escolhas
e
muitas vezes é o que deixamos para trás que nos permite seguir em frente.
como explicar a amálgama de sentimentos que tantas vezes sentimos?
será verdade que é uma característica inerente ao género feminino?
seremos umas mais voláteis do que outras?
ou, no que diz respeito a relacionamentos amorosos temos todas as mesmas sombras?
confesso ter saudades do meu "primeiro amor"; não pela pessoa com quem partilhei essa história – embora o recorde com ternura, mas pela magia, a inocência e a certeza da eternidade daquele sentimento.
sei, agora, que nada é eterno. nem o bom, nem o mau. chata a vida que nos ensina a desconfiar!
à medida que fui crescendo e acumulando desgostos, as minhas entregas passaram a ser "acauteladas", as decisões ponderadas - levando ao extremo a racionalização do subjetivo - e o jogo de poder constante - para garantir que deixo claro que não estou para que me magoem.
agora, até prova em contrário, e inevitavelmente aberta a essa possibilidade em consequência dos meus relacionamentos passados e de tantos outros que acompanhei e acompanho, tenho o namorido p.e.r.f.e.i.t.o.! para além de lindo – sim, sei que o amor pode deturpar a minha análise, mas o que interessa é como eu o vejo - é inteligente, tem princípios firmes, sentido de humor e, o mais importante, paciência de santo para as minhas inseguranças a variações de humor! tem, no entanto, uma forte falha para um ser sensível como eu: é autocentrado e nada romântico. mas é bom recordar que referi ter o namorido p.e.r.f.e.i.t.o. e não o príncipe encantado!
perante este cenário, deveria estar feliz e aproveitar cada segundo na sua companhia... e é o que acontece... quando não sou possuída pela névoa da insegurança e o meu desejo irracional de ser o centro do seu mundo. por vezes sou tão infantil que nem eu mesma sei como lidar comigo! e é aqui que vejo naquele ser toda a perfeição e afeição do universo. lida comigo de forma tão assertiva que me faz sentir “idiota” pelos meus desvarios!
porque o faço pagar pelas minhas deambulações amorosas? porque não acredito cegamente no seu amor?
a vida torna-nos frios e racionais, desprovidos do encanto e a magia de acreditar no "foram felizes para sempre". este aspeto não te de ser um fator negativo. ter noção das fragilidades de um relacionamento permite-nos lidar com ele de uma forma mais construída e até prevenir certas situações que possam surgir e fazer mossas na relação.
um relacionamento implica sempre duas pessoas. e cada uma delas é um ser único e especial, com as suas “taras e manias”. cada um tem as suas necessidades, os seus valores e exigências … nem sempre são compatíveis ou entendidos pela outra pessoa. a consciência disto dá-nos uma arma poderosa para “salvar o amor”.
a experiência traz-nos a consciência de que as relações são frágeis e por isso têm de ser trabalhadas e alimentadas.
traz-nos também a sabedoria para aceitar que as pessoas não mudam. ou seja, não mudam traços da sua personalidade, podem mudar alguns comportamentos, mas não mudam a base destes. assim, se o nosso companheiro tiver uma característica com a qual não conseguimos lidar, o melhor é deixar o barco enquanto a maré está calma.
a paixão surge naturalmente e é maravilhosa, mas um relacionamento estável e feliz é construído. essa construção exige trabalho, aceitação, entrega, partilha, empatia, sentido de humor, respeito e valorização do outro.
nem sempre é fácil, ou quiçá, nem sempre é difícil… todavia a cumplicidade atingida e a certeza do afeto do outro, valem bem a pena!
muito dona do meu nariz, nunca fui de aceitar cinzentos no que toca a afetos. as pessoas querem ou não querem estar connosco. respeitam-nos ou não. valorizam-nos ou não.
nunca mendiguei, nem nunca desperdicei os meus afetos.
estranhamente as mágoas afetivas que guardo nunca foi com namorados. devo-as todas a (ex)amigos. amigos que não souberam lutar pela nossa relação. amigos que perante os ciúmes das namoradas optaram por se afastar.
nunca entendi tal comportamento. não consigo sequer explicar o sentimento de traição que senti. pois como é óbvio, falo de relacionamentos de amizade vincada e alimentada por anos de relacionamento. talvez eu tenha esse karma. aconteceu-me com 3 amigos, em diferentes fases da minha vida.
a minha reação? um corte definitivo. se fomos descartados, postos de lado e esquecidos, temos o direito a fazer um delete nessa pessoa. ninguém tem o direito de magoar ninguém, de trair a sua confiança e apor em causa anos de relacionamento!
embora achasse as gajas, promotoras da situação, parvas, nunca as responsabilizei. a mim nada deviam. quem me devia consideração era ele.
que fraquinhos os meus (ex)amigos. incapazes de lidar com a pressão da nova namorada. inábeis de me ir introduzindo a pouco e pouco na relação, quebrando as inseguranças das miúdas, e possibilitando que também nos tornássemos amigas. atrasados!
acredito em cortes radicais. só esses permitem fechar a ferida. não dão espaço a que hajam recorrentes toques na ferida, fazendo-a sangrar. doeu, curou, passou.
extremismo? talvez.
eu prefiro chamar-lhe autopreservação do ser!
o texto da miss l fez reavivar estas emoções negativas, mas, simultaneamente, fez-me reafirmar a certeza na minha decisão de afastar essas pessoas da minha vida (mesmo quando após o término da relação tentaram reaproximar-se).